O preconceito faz parte da rotina de pessoas com sobrepeso. No DF, um milhão estão acima do peso O preconceito existe. São piadas, olhares ...
O preconceito faz parte da rotina de pessoas com sobrepeso. No DF, um milhão estão acima do peso
O preconceito existe. São piadas, olhares e comentários constrangedores. “Estar acima do peso, quase sempre, é visto com maus olhos pela sociedade. As pessoas acham que devo ser infeliz por ser gorda”, afirma Rina da Silva, 29 anos, hoje, com mais de 100 quilos. A estudante, que não se incomoda em falar do peso, faz parte do universo dos mais de um milhão de pessoas com sobrepeso, quase 49% da população adulta do DF. Os dados são da Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel).
Para Rina, o bullying contra gordinhos sempre existiu, mas, apesar disso, o assunto ainda é um tabu. “É muito raro alguém falar disso abertamente. É normal falar de gordo, apontar, rir, como se a gente não se importasse com isso”, acrescenta. Ela destaca ainda que lugares de uso público, como banheiros, ônibus e até cadeiras, não estão preparados para pessoas com excesso de peso. “O ônibus pode estar lotado, mas as pessoas não sentam do meu lado. Me sinto muito mal. Cheguei em casa chorando e fiquei uma semana sem sair”, conta.
Transporte
E basta ir à Rodoviária do Plano Piloto para encontrar outras pessoas com excesso de peso com dificuldade de usar o transporte público.
“Parece que essa nova frota veio com os bancos ainda menores. Fico de pé para não me sentir incomodando ninguém”. afirma a operadora de telemarketing Silvia Ribeiro, 30 anos.
Segundo Silvia, os olhares dos passageiros são constrangedores. “E, mesmo assim, as pessoas me olham feio, como se eu estivesse ocupando o espaço delas”, disse.
Em todos os lugares
Os casos de preconceito não são comuns somente no cotidiano de quem usa utiliza o transporte público. No mercado de trabalho, nas lojas, nas ruas. Lá estão as cenas de discriminação.
De acordo com Silvia Ribeiro, comprar uma roupa, muitas vezes, representa um desafio. “Nas lojas, por exemplo, se peço uma roupa, me respondem logo que não têm o meu tamanho. É um tratamento diferenciado. É muito perceptível”, relata.
O ápice do constrangimento, segundo ela, foi no momento em que foi ofendida. A operadora de telemarketing já chegou a ser xingada na rua por conta do seu peso. “Baleia, elefante, gordona e por aí vai”, lembra.
Mercado
No mercado de trabalho, tanto Silvia quanto Rina também já sofreram as consequências da discriminação. “Se a vaga exige ‘beleza’ ou alguma coisa assim, nem tento mais”, confessa Rina.
Silvia, por sua vez, relata que os próprios chefes a tratam de maneira diferenciada. “Acontece, né? É aquilo que eu digo, o modo de tratar é diferente”, conta;
Intervenção cirúrgica pode ser uma opção
Só no ano passado, o Hospital Regional da Asa Norte (Hran) realizou 240 cirurgias bariátricas. Apenas no início deste ano, a unidade já contabiliza 50 procedimentos para redução de estômago. A gastroplastia, contudo, exige muita atenção. O procedimento só é recomendado em casos graves de obesidade, quando as mudanças alimentares e a prática de atividades físicas são impossíveis de serem implementadas.
“O critério mais adotado e de fácil utilização é o Índice de Massa Corpórea (IMC). Acima de 30, a pessoa é considerada obesa. Mas, realmente, o primeiro passo é a dieta e a mudança de hábito. A verdadeira mudança ocorre quando o paciente deixa de achar a dieta um 'sacrifício" e considera seu ‘eixo normal’”, explica o endocrinologista e metabologista Flávio Cadegiani.
Medo
A cirurgia nunca foi uma opção para a estudante Rina da Silva. “Tenho medo de cirurgias. E nunca recebi a recomendação médica, então isso não é uma opção para mim. Prefiro ir à academia, tentar controlar meus impulsos mesmo”, diz.
Apesar de saber que é preciso mudar os hábitos, ela confessa estar acomodada com a situação. “Eu gosto de comer. Se não fosse pelos outros me olharem feio, com certeza, não sentiria necessidade de emagrecer”, desabafa a estudante.
Muitas fases
O médico Flávio Cadegiani conta que o bullying é muito praticado com pessoas acima do peso e nos mais diversos níveis: desde a escola até ambiente de trabalho. “O que eu observo são muitos pacientes que sofreram demais com este tipo de atitude quando ela ainda era menosprezada e subjugada, pois o bullying só tem sido levado a sério há poucos anos”, pontua.
Segundo Cadegiani, as situações de preconceito deixam marcas. “Vejo sequelas psicológicas graves do bullying”, diz.
Homens são mais tranquilos
O excesso de peso, contudo, parece não ser uma barreira tão visível no caso dos homens. Mais relaxados com a ideia de engordarem, alguns confessam que nunca tentarem emagrecer por estética, mas, sim, pela saúde. “Nunca liguei para a estética. Aliás, acho que para homem isso é menos cobrado. Agora, tive que perder uns quilos por que estava com pressão alta e suspeita de diabetes. Tudo isso devido ao excesso de peso. Na época, eu estava com 140 quilos”, conta o motorista Delmar Oliveira, 59 anos.
Para ele, a perda excessiva de peso pode deixá-lo “feio”. “Gosto de mim do jeito que sou. Realmente, só penso em perder uns quilos a mais por causa da saúde. É claro que eu vejo as pessoas me notando, rindo de mim. Mas, não ligo não. Gosto de mim do jeito que sou”, conta Delmar.
Na internet
Na tentativa de emagrecer e se enquadrar nos padrões estéticos, gordinhos e gordinhas se unem em páginas da internet para compartilhar dietas, nomes de nutricionistas e, até mesmo, receitas lights.
Em um dos grupos de uma rede de relacionamento, a reportagem do Jornal de Brasília perguntou quais os tipos de preconceitos que eles sofrem. Algumas das respostas foram essas: “Muita gente que convive diariamente comigo tem preconceito: você come pouco, por que é gorda? Você não pode comer isso, é gorda. A bunda dela não passa aí. Essas coisas que me fazem sentir diferente dos outros. Faço aula de dança do ventre e reparo que as outras alunas ficam me olhando torto”, contou uma internauta.
Outra usuária da rede de relacionamento afirmou que sente dificuldade para conseguir emprego. “Quando você chega para uma entrevista, nem olham. Dá vontade de esfregar o diploma na cara da recrutadora”, apontou.
Pense nisso
O relato dos personagens evidencia a face obscura da discriminação. Seja nos bancos acadêmicos, na família ou no mercado de trabalho, o preconceito costuma deixar marcas profundas em suas vítimas. Em busca da perfeição física, homens e mulheres têm perdido oportunidades, saúde e até a dignidade. A imposição de um padrão pode comprometer o presente e o futuro de pessoas que, muitas vezes, sofrem caladas e não buscam seus direitos.
Saiba mais
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou uma pesquisa que aponta que o peso corporal é o fator predominante para a ocorrência de bullying frequente entre alunos das escolas brasileiras. De acordo com a análise, na rede pública, 54% dos estudantes que se acham muito gordos são vítimas de bullying. Já nas escolas particulares, o índice é ainda mais alto, 63%.
Segundo o autor, o técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto, Luis Claudio Kubota, os dados indicam, ainda, que os alunos que se autoclassificam muito gordos ou muito magros, estão sujeitos a serem bullies ativos (39,4%, provavelmente como mecanismo de defesa), a sentirem solidão (32,5%), a sofrerem de insônia (15,5%), sofrerem violência familiar (24,3%), sofrerem agressões (38,1%) e lesões (23,3%). Os alunos ainda sentem que seus pais raramente, ou nunca, entendem seus problemas e preocupações.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
Transporte
E basta ir à Rodoviária do Plano Piloto para encontrar outras pessoas com excesso de peso com dificuldade de usar o transporte público.
“Parece que essa nova frota veio com os bancos ainda menores. Fico de pé para não me sentir incomodando ninguém”. afirma a operadora de telemarketing Silvia Ribeiro, 30 anos.
Segundo Silvia, os olhares dos passageiros são constrangedores. “E, mesmo assim, as pessoas me olham feio, como se eu estivesse ocupando o espaço delas”, disse.
Em todos os lugares
Os casos de preconceito não são comuns somente no cotidiano de quem usa utiliza o transporte público. No mercado de trabalho, nas lojas, nas ruas. Lá estão as cenas de discriminação.
De acordo com Silvia Ribeiro, comprar uma roupa, muitas vezes, representa um desafio. “Nas lojas, por exemplo, se peço uma roupa, me respondem logo que não têm o meu tamanho. É um tratamento diferenciado. É muito perceptível”, relata.
O ápice do constrangimento, segundo ela, foi no momento em que foi ofendida. A operadora de telemarketing já chegou a ser xingada na rua por conta do seu peso. “Baleia, elefante, gordona e por aí vai”, lembra.
Mercado
No mercado de trabalho, tanto Silvia quanto Rina também já sofreram as consequências da discriminação. “Se a vaga exige ‘beleza’ ou alguma coisa assim, nem tento mais”, confessa Rina.
Silvia, por sua vez, relata que os próprios chefes a tratam de maneira diferenciada. “Acontece, né? É aquilo que eu digo, o modo de tratar é diferente”, conta;
Intervenção cirúrgica pode ser uma opção
Só no ano passado, o Hospital Regional da Asa Norte (Hran) realizou 240 cirurgias bariátricas. Apenas no início deste ano, a unidade já contabiliza 50 procedimentos para redução de estômago. A gastroplastia, contudo, exige muita atenção. O procedimento só é recomendado em casos graves de obesidade, quando as mudanças alimentares e a prática de atividades físicas são impossíveis de serem implementadas.
“O critério mais adotado e de fácil utilização é o Índice de Massa Corpórea (IMC). Acima de 30, a pessoa é considerada obesa. Mas, realmente, o primeiro passo é a dieta e a mudança de hábito. A verdadeira mudança ocorre quando o paciente deixa de achar a dieta um 'sacrifício" e considera seu ‘eixo normal’”, explica o endocrinologista e metabologista Flávio Cadegiani.
Medo
A cirurgia nunca foi uma opção para a estudante Rina da Silva. “Tenho medo de cirurgias. E nunca recebi a recomendação médica, então isso não é uma opção para mim. Prefiro ir à academia, tentar controlar meus impulsos mesmo”, diz.
Apesar de saber que é preciso mudar os hábitos, ela confessa estar acomodada com a situação. “Eu gosto de comer. Se não fosse pelos outros me olharem feio, com certeza, não sentiria necessidade de emagrecer”, desabafa a estudante.
Muitas fases
O médico Flávio Cadegiani conta que o bullying é muito praticado com pessoas acima do peso e nos mais diversos níveis: desde a escola até ambiente de trabalho. “O que eu observo são muitos pacientes que sofreram demais com este tipo de atitude quando ela ainda era menosprezada e subjugada, pois o bullying só tem sido levado a sério há poucos anos”, pontua.
Segundo Cadegiani, as situações de preconceito deixam marcas. “Vejo sequelas psicológicas graves do bullying”, diz.
Homens são mais tranquilos
O excesso de peso, contudo, parece não ser uma barreira tão visível no caso dos homens. Mais relaxados com a ideia de engordarem, alguns confessam que nunca tentarem emagrecer por estética, mas, sim, pela saúde. “Nunca liguei para a estética. Aliás, acho que para homem isso é menos cobrado. Agora, tive que perder uns quilos por que estava com pressão alta e suspeita de diabetes. Tudo isso devido ao excesso de peso. Na época, eu estava com 140 quilos”, conta o motorista Delmar Oliveira, 59 anos.
Para ele, a perda excessiva de peso pode deixá-lo “feio”. “Gosto de mim do jeito que sou. Realmente, só penso em perder uns quilos a mais por causa da saúde. É claro que eu vejo as pessoas me notando, rindo de mim. Mas, não ligo não. Gosto de mim do jeito que sou”, conta Delmar.
Na internet
Na tentativa de emagrecer e se enquadrar nos padrões estéticos, gordinhos e gordinhas se unem em páginas da internet para compartilhar dietas, nomes de nutricionistas e, até mesmo, receitas lights.
Em um dos grupos de uma rede de relacionamento, a reportagem do Jornal de Brasília perguntou quais os tipos de preconceitos que eles sofrem. Algumas das respostas foram essas: “Muita gente que convive diariamente comigo tem preconceito: você come pouco, por que é gorda? Você não pode comer isso, é gorda. A bunda dela não passa aí. Essas coisas que me fazem sentir diferente dos outros. Faço aula de dança do ventre e reparo que as outras alunas ficam me olhando torto”, contou uma internauta.
Outra usuária da rede de relacionamento afirmou que sente dificuldade para conseguir emprego. “Quando você chega para uma entrevista, nem olham. Dá vontade de esfregar o diploma na cara da recrutadora”, apontou.
Pense nisso
O relato dos personagens evidencia a face obscura da discriminação. Seja nos bancos acadêmicos, na família ou no mercado de trabalho, o preconceito costuma deixar marcas profundas em suas vítimas. Em busca da perfeição física, homens e mulheres têm perdido oportunidades, saúde e até a dignidade. A imposição de um padrão pode comprometer o presente e o futuro de pessoas que, muitas vezes, sofrem caladas e não buscam seus direitos.
Saiba mais
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou uma pesquisa que aponta que o peso corporal é o fator predominante para a ocorrência de bullying frequente entre alunos das escolas brasileiras. De acordo com a análise, na rede pública, 54% dos estudantes que se acham muito gordos são vítimas de bullying. Já nas escolas particulares, o índice é ainda mais alto, 63%.
Segundo o autor, o técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto, Luis Claudio Kubota, os dados indicam, ainda, que os alunos que se autoclassificam muito gordos ou muito magros, estão sujeitos a serem bullies ativos (39,4%, provavelmente como mecanismo de defesa), a sentirem solidão (32,5%), a sofrerem de insônia (15,5%), sofrerem violência familiar (24,3%), sofrerem agressões (38,1%) e lesões (23,3%). Os alunos ainda sentem que seus pais raramente, ou nunca, entendem seus problemas e preocupações.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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