Por Mayalu Felix Sérgio Camargo, jornalista, negro, paulistano, 54 anos, foi convidado para presidir a Fundação Cultural Palmares, sob a ...
Por Mayalu Felix
Sérgio Camargo, jornalista, negro, paulistano, 54 anos, foi convidado para presidir a Fundação Cultural Palmares, sob a chefia de Roberto Alvim, secretário especial de Cultura do Governo Bolsonaro. A notícia causou revolta no mundo dos “movimentos afro”. Algumas convicções de Sérgio, expressas nas redes sociais, foram apontadas como a própria antítese da ideia central da Fundação, que é preservar a memória da cultura de origem africana no Brasil.
Mas o que pensa Sérgio Camargo, afinal, que vai contra a ideia de preservar a herança cultural de origem africana no Brasil? Primeiro, é preciso que se diga que ele é filho de um dos maiores escritores da chamada literatura negra. Seu pai, s. Oswaldo de Camargo, é um intelectual refinado, um homem lúcido e admirado por quem conhece a fundo questões relativas à negritude no Brasil.
Sérgio não é nem nunca foi, portanto, alheio a questões políticas e culturais relativas à herança africana no Brasil. Ademais, abraçou a profissão de seu pai, jornalista, tendo trabalhado junto a ele na elaboração, na pesquisa e na confecção de muitas de suas obras. Dos filhos, foi o que mais se aproximou do pai em termos de atividade laborativa.
Dessa forma, não me custa repetir: Sérgio Camargo nada tem contra negros. Nem poderia. É filho de pai e mãe negros, irmão de negros, ex-namorado de mulheres negras, amigo de negros etc. A questão (uma delas) é que ele não aprova o vitimismo em que se converteu a “questão negra” hoje, não só no Brasil, mas em todo o Ocidente. Além do mais, Sérgio tem muito claro, diante de si, que o que serve para os EUA em termos de política racial evidentemente não serve para o Brasil.
Isso porque os Estados Unidos são um país em que a política segregacionista criada após o fim da escravidão era regida por leis muito claras: negros e brancos não podiam dividir os mesmos espaços públicos. As igrejas, de mesma denominação, eram separadas. E assim os cemitérios, as escolas... Casamentos interraciais eram proibidos; o último estado a legalizar o casamento interracial foi o Alabama, em 2000. Isso nos parece surpreendente, pois sempre fomos miscigenados. Tivemos como fundador da Academia Brasileira de Letras, em julho de 1897, um homem mestiço, mulato e aceito pela sociedade culta do Rio de Janeiro, sr. José Maria Machado de Assis; há muitos outros exemplos. Nos EUA, para se ter uma ideia, a segregação nas escolas acabou em 1954 e, em 1965, a Lei do Direito ao Voto para as minorias foi proclamada.
Na África do Sul, para que compreendamos o que é “racismo estrutural”, a segregação era legal e durou de 1948 a 1994, ou seja, 46 anos. Com o regime do apartheid, casamentos interraciais foram proibidos em 1949. Em 1950, uma outra lei, chamada de “Lei da Imoralidade”, proibiu relações sexuais entre brancos e negros. Também em 1950, a população começou a ser cadastrada por raça e dividida fisicamente, em bairros específicos para negros e brancos.
Pode-se argumentar que após o 13 de maio de 1888 os negros foram deixados à própria sorte. De fato, e creio que este foi um dos grandes erros cometidos na época, não houve nenhum tipo de assistência aos milhares de seres humanos que, saídos de um regime desumano de submissão e totalitarismo, não encontraram na liberdade possibilidades de trabalho e desenvolvimento pessoal. Nenhum deles, salvo raríssimas exceções, sabia ler nem escrever, tampouco tinha ofício ou formação profissional. Para as mulheres foi mais fácil conseguir algum ganha pão relacionado ao trabalho doméstico. Para os homens, contudo, a situação era mais complexa, até porque logo depois chegaram os imigrantes europeus, que ocuparam quase inteiramente o espaço da lavoura existente.
Com todas as dificuldades a envolver o processo de escravidão negra no Brasil, em seu final não houve leis nem regras que estabelecessem algum tipo de separação entre negros e brancos na sociedade. A divisão existia por razões sociais, econômicas, acadêmicas e culturais, mas havia também miscigenação, convivência, coparticipação em pequenos negócios e, desde antes do fim da escravidão, permeabilidade cultural e social. Não sou a primeira a dizer isso, livros de grandes historiadores e sociólogos falam por mim.
Racismo sempre houve, mas os episódios de discriminação nunca foram estruturais, mas circunstanciais. Isso não significa que foram “melhores”, mas diferentes. Portanto, as medidas tomadas para combatê-lo, estruturais, falsearam não apenas as causas como também forneceram soluções ineficientes para problemas que não foram solucionados.
Vejamos, pois, a questão das cotas. Ora, o objetivo era permitir aos negros chegar à universidade pública. Mas o cerne do problema, jamais abordado, era a baixíssima qualidade dos ensinos fundamental e médio da rede pública. Por acaso o governo do PT se empenhou em resolver isso? De modo nenhum. E por que negros, ao que parece, tinham dificuldade em passar em exames de admissão de universidades públicas? Porque estudavam em escolas públicas, majoritariamente (nem todos, como se percebeu depois). Então, pela lógica, a etapa posterior à adoção de cotas seria a imediata melhoria das escolas públicas de ensino fundamental e médio, certo? Pela lógica, sim, mas a lógica da esquerda jamais é em favor dos desfavorecidos. O ensino público piorou, ano a ano. Investiu-se muito em política de cotas e os universitários que entraram por ela continuaram deficitários.
E os brancos pobres, sem condições de estudar em escolas particulares tanto quanto os negros? Bom, esses foram varridos para baixo do tapete: não importam, não devem existir, não são levados em conta. Mas existem. Por isso, na revisão da lei de cotas, em 2022, será preciso mais que racialismo para defender que o critério que define essa lei continue a ser o racial: é preciso que ele seja o social. Se a maioria das pessoas carentes é composta de negros, naturalmente eles serão beneficiados pela política de cotas. É disso que fala Sérgio Camargo quando diz que é “contra a política de cotas”. É claro, recortaram o que ele disse, maldosamente, para que o sentido fosse moldado à sua revelia a favor da desinformação.
Mais uma polêmica: o atual presidente da Fundação Cultural Palmares, negro, diz não ter orgulho de ser negro. É preciso que alguém se orgulhe de uma condição, do que é, de como nasceu? Se ele fosse chinês, também não teria orgulho. Nem orgulho nem vergonha. Cada um é como é. Eu não tenho orgulho de ser mulher. Nasci assim, não sei como é ser outra coisa. Sou nordestina, não me orgulho disso. Se fosse paulista, tampouco me orgulharia. Sérgio Camargo pensa que o indivíduo deve ter orgulho do que faz, do que realiza, não do que é, da maneira como nasce. Esse “orgulho de ser negro” é, no mínimo, descabido. Sou descendente de árabes. Devo ter orgulho? Como assim? Tenho orgulho de ter estudado, vencido dificuldades, conquistado vitórias no âmbito profissional. Tenho um bisavô português. Devo ter orgulho? É sem sentido alguém ter orgulho porque a cor da pele é escura ou é clara.
Sérgio Camargo não é nem nunca foi racista, ele só cometeu o crime de discordar dessa vitimização sem fim que é feita usando os negros o tempo todo, a favor de um partido, de uma ideologia, de um candidato, de um ex-presidente. Fazem dos negros massa de manobra. Esse processo ideológico-cultural acontece nas novelas da Rede Globo, nos filmes, na literatura em geral. O presidente da Fundação Palmares não nega que existe racismo, mas acrescenta que no Brasil o racismo é circunstancial. Também acha que não deve haver políticas governamentais que tratem o negro como vítima sem apontar uma solução definitiva para essa condição.
Há uma indústria de fabricar dinheiro em forma de “ONGs afro” bancada com o dinheiro público. A Fundação Palmares injeta recursos nessas instituições, mas isso deve ser revisto. O dinheiro do pagador de impostos enviado à entidade deve ser bem direcionado. Há muitas caixas-pretas a ser abertas e, possivelmente, fatos que alguns não desejam levar à apuração.
Por fim, a tão manipulada afirmação de que a escravidão foi “benéfica” para os descendentes de escravos no Brasil. Em 1997, fui à África. Fiquei realmente feliz ao conhecer dois países naquele vasto continente: Burkina Faso e Togo. O povo africano, em meio à mais franciscana simplicidade de vida, é alegre e muito receptivo. Conheci algumas aldeias. Os camponeses viviam em cabanas de taipa, dormiam no chão de terra batida, sem cama nem lençol. Não tinham banheiros nem água corrente. As escolas eram depauperadas. O único hospital da segunda maior cidade do Togo, ao norte, não tinha leitos, apenas esteiras no chão. A expectativa de vida de um homem africano é de 35 anos. Lá não havia papel higiênico. Limpavam-se com a mão esquerda e comiam com a direita, pois tampouco havia talheres. Cumprimentavam com a mão direita. Eram e ainda são vítimas de doenças aqui já erradicadas. A realidade de quase toda a África, hoje, é muito dura, triste e desoladora. Os seres humanos que ali conheci estarão para sempre nas minhas melhores memórias, mas não conheço negros no Brasil que vivam como eles.
Sérgio e praticamente todos os brasileiros descendentes de escravos vivem bem melhor aqui no Brasil que um africano descendente de negros que nunca foram escravizados e que está hoje no Togo ou em Burkina Faso. Um negro norte-americano, descendente de escravos, que mora em New York, vive milhares de vezes melhor que um africano do Benin. É óbvio que a escravidão, em si, não é nem nunca foi algo bom. Mas, para os descendentes dos africanos, ela foi, sim, em muitos aspectos, positiva. Se estivessem, hoje, na África, eles não teriam a possibilidade de viver como o fazem aqui ou nos Estados Unidos, na Inglaterra (e no então vasto Império Britânico, onde a escravidão negra foi abolida em 1833), na França (e em todas as suas então colônias, onde a escravidão negra foi abolida em 1843, com a proclamação da Segunda República Francesa) etc.
Há outras questões que precisam ser discutidas e que foram levantadas, muito por alto, por Sérgio Camargo. O famoso “racismo reverso” deve entrar em pauta. Sim, existe, ainda que seja escamoteado porque tem gosto de “vingancinha boa” e “pagamento de dívida histórica” de descendentes de brancos para descendentes de negros. Mas não tem graça nenhuma para quem sofre.
A chegada de Sérgio Camargo à Presidência da Fundação Cultural Palmares, à parte a distorção de suas falas, teve méritos que precisam ser reconhecidos: primeiro, o órgão era desconhecido da maioria do povo. Ninguém sabia o que era nem para que servia, mas de repente passou a ser objeto de debate nas redes sociais, na TV, nos jornais. Até o ex-presidente José Sarney, sob cuja gestão a Fundação foi criada, mediante a Lei Federal nº 7.668, de 22 de agosto de 1988, escreveu um artigo criticando (é claro) as opiniões politicamente incorretas do negro Sérgio Camargo.
Segundo, a chegada de Camargo à Presidência da Fundação Palmares fez com que muitos negros que não se identificam com o “movimento negro” saíssem do armário. A militância esquerdista raivosa invadiu o Gabinete da Fundação Cultural exigindo falar com Sérgio Camargo. Caricatos, com seus turbantes, dreadlocks, black powers, mega brincos, batas e outros infinitos figurinos que nenhum negro normalmente usa no dia a dia, esses sanguessugas de ONGs vivem do dinheiro que o Governo Federal generosamente entrega para “financiar” a cultura negra, seja lá o que isso quer dizer.
Se cultura negra significa bailes funk nas favelas, em que adolescentes engravidam e drogas circulam livremente, pouco importa: o negro é pintado de modo caricato. Precisa bater lata, cultuar a África e admirar Zumbi, ainda que quase nada se saiba dessa figura histórica que viveu 200 anos antes da Lei Áurea. Um de meus bisavôs era português. Imaginem se eu vivesse cultuando “minha herança portuguesa”. Seria meio insano, não é? Os militantes de esquerda descendentes de africanos que hoje cultuam a África têm parentes mais distantes naquele continente: bisavós, tetravós. Mas vivem como se seus pais tivessem chegado ontem do Congo ou do Senegal. Caricatura líquida e certa.
Terceiro, ficamos sabendo que os “militantes afro” são pessoas raivosas, que não respeitam o espaço público, agressivas, que desconhecem o diálogo honesto, que estão dispostas a ir à Justiça porque alguém que não tem exatamente seu ponto de vista seja exonerado de um cargo para o qual foi recentemente nomeado e empossado, tendo capacidade comprovada para ocupá-lo. Não aceitam o contraditório, odeiam a democracia, detestam o mérito, invejam, maldizem. O site da Fundação Palmares foi tirado do ar assim que a indicação de Sérgio Camargo foi divulgada. Destroem o patrimônio público em nome de sua ideologia. Mantêm a mente de muitos negros cativa em nome de seu esquerdismo. São mentalmente doentes. Pregam “relações afetivas afrocentradas” em nome da “preservação da raça”. Nem Hitler foi tão eficiente. Graças a Deus a insanidade dessa gente está aparecendo.
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