"O apoio ao governo está diminuindo", aponta Janaina Paschoal Deputada estadual critica interferência dos filhos do presidente n...
"O apoio ao governo está diminuindo", aponta Janaina Paschoal
Deputada estadual critica interferência dos filhos do presidente no governo e vê exagero na agenda de costumes. Para ela, Bolsonaro não deveria se afastar da plataforma de combate à corrupção. E ressalta que o apoio a ele está diminuindo
São Paulo — Uma das autoras do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a jurista e agora deputada estadual paulista Janaina Paschoal (PSL) vem sendo tachada de comunista por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Ela afirma que votaria nele de novo, mas avisa que não concorda com tudo o que ele faz. Ela ressalta ainda, que a base de apoio de Bolsonaro está diminuindo.
Para a parlamentar, que foi cotada para ser vice de Bolsonaro, o presidente tem exagerado na agenda de costumes e precisa de alguém que bote um freio nele, pois não pode abandonar as outras agendas, principalmente, a do combate à corrupção. Janaina considera excessiva a interferência dos filhos do presidente no governo.
Na avaliação da deputada paulista, o grande erro do capitão reformado desde que assumiu tem sido insistir na candidatura do filho 03, o deputado Eduardo Bolsonaro, para ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos. A indicação não pode ocorrer do ponto de vista jurídico, segundo ela. “Eu entendo que fere a lei da probidade administrativa. É o princípio da probidade a impessoalidade. E é flagrante que ele está indicando o filho por ser filho”, explica a autora de outro pedido de impeachment: agora contra o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli.
Doutora em Direito Penal, Janaina engrossa o coro dos que lamentam a recente decisão da Corte Suprema que pode invalidar várias decisões da Lava-Jato. Para ela, a operação que virou referência no combate à corrupção no país corre o risco de ruir. A seguir os principais trechos da entrevista concedida pela deputada.
Como a senhora avalia o governo Bolsonaro? Eu achei bom o discurso do presidente na ONU. Não vi nada de tão absurdo como disseram. Mas, do ponto de vista diplomático, não foi um discurso conciliador para aquela plateia, que é muito qualificada. Parecia que ele estava no palanque. Foi um discurso coerente com o que ele pensa. Ele resgatou muitas verdades. Não dá para acreditar que essa coisa toda em torno da Amazônia seja bondade desse pessoal. Acho importante deixar claro, sim, que a Amazônia é nossa, muito embora possa existir um exagero do bolsonarismo, entre os quais eu não me incluo, de que as ONGs não são as mocinhas que se fazem crer. Não dá para ter essa santidade em torno das ONGs. Tem muito interesse internacional na Amazônia. Eu gostei mesmo do discurso dele, mas tenho algumas divergências, que deixei claras em vários momentos, como a indicação do Eduardo Bolsonaro (para a embaixada do Brasil nos EUA). Acho errado, porque abre um flanco para uma crítica que é absolutamente desnecessária.
Legalmente, ele pode fazer isso? Eu entendo que fere a lei da probidade administrativa. É o princípio da probidade a impessoalidade. E é flagrante que ele está indicando o filho por ser filho. O Bolsonaro pode até dizer que está indicando porque ele confia no filho. Mas confia porque é filho. Vamos imaginar que você tenha um filho especialista em Antártida e aí vai ter um ministério da Antártida. Alguma coisa assim, tem lógica. No caso do Eduardo, não vejo lógica. Acho que o presidente está abrindo um precedente ruim. Está se colocando refém do Senado sem necessidade. Tenho as minhas divergências. Mas não acho que Bolsonaro está indo mal no governo. A indicação do Eduardo é o grande erro do governo. Não tem justificativa. Realmente, acho que é um erro muito significativo. Espero que ele revise essa decisão.
Onde mais o presidente está errando? O tom dele é exagerado. Precisaria de alguém ali do lado, de gente um pouco mais corajosa para segurar mais as rédeas. Na campanha, eu conversava mais com ele e disse, algumas vezes, que ele não podia falar uma coisa , e explicava o porquê. Ele ouvia. O excesso de preocupação ou de condução com os filhos, por exemplo, poderia ser reduzido. Eu acho que tem (interferência dos filhos), mas não acho que chega a atrapalhar a governabilidade. Atrapalha a impessoalidade do cargo. Ele é o presidente, e não os filhos. Ele tem que deixar isso muito claro. Às vezes, a culpa é das pessoas que interpretam qualquer frase de um filho como sendo do presidente.
E quais foram os acertos?Ele acertou nomeando o (Sérgio) Moro (ministro da Justiça) e o (Paulo) Guedes (Ministro da Economia). Acertou na condução da reforma da Previdência. Ele acerta com todo o trabalho do Tarcísio de Freitas (Infraestrutura).
Por conta de seus comentários críticos ao governo, a senhora está sendo chamada até de comunista nas redes sociais...Sim! Eu não sou radical. Nunca fui. Nem na época do PT, quando me chamavam de fascista, e nem agora, quando me chamam de comunista. Hoje, os bolsonaristas estão fazendo exatamente o que os petistas fizeram.
O petismo e o bolsonarismo são parecidos?O petismo é pior. Eles são mais numerosos e têm mais força dentro das instituições. Eu acho que o perigo do petismo é maior, porque está mais enraizado. Mas o bolsonarismo também não é uma coisa legal. Mas, hoje, a base de apoio de Bolsonaro está encolhendo e só estão ficando os bolsonaristas mesmo. Alguém tem que mostrar para o presidente que esse minigrupo não vai dar sustentação para ele.
É crescente o número de arrependidos em apoiar Bolsonaro.
A senhora está arrependida? Votaria nele de novo?Eu votaria nele de novo. Não me arrependo. Eu não tinha alternativa. Agora, o fato de eu não me arrepender não significa que tenha que concordar com tudo. O problema é essa mentalidade que se estabeleceu, que a gente tem que dizer amém.
A senhora acha que a confiança da população em Bolsonaro vai durar até quando?Não sei. Depende muito mais dele e do desenrolar dos fatos. Lógico que Bolsonaro erra se continuar com esse viés ideológico e de costumes. Parece que ele acredita que foi eleito, exclusivamente, por essa pauta mais conservadora. Na verdade, ele foi eleito por várias pautas: a liberal econômica, o combate à corrupção, a segurança. Se eu fosse colocar um peso, diria que a do combate à corrupção foi a que mais pesou. Acho bom ele ter isso claro. Mas o presidente está muito apegado a essa questão dos costumes, acreditando que o que o elegeu foi isso. Acredito que, se ele se afastar muito do combate à corrupção, corre risco.
O que a senhora pensa sobre a decisão do Supremo sobre o direito de réus delatados apresentarem suas alegações finais? A decisão é muito questionável. Aplicar retroativamente é um verdadeiro absurdo jurídico. Não é só a Lava-Jato que está em risco. Vários outros casos, de todos os tipos de crime, se o STF seguir com isso, serão anulados. Será uma vergonha internacional. Quero expressar meu descontentamento com as anulações que vêm sendo decididas pelo STF e externar a preocupação com a hipótese de o novo entendimento ser aplicado retroativamente.
Os vazamentos das conversas do ministro Moro reveladas pelo The Intercept também podem anular a operação? Não tem nada que justifique uma anulação. Até achei bom, porque mostraram (os ex-presidentes) Lula e Michel Temer conversando no meio do processo de impeachment para salvar o mandato da Dilma. Isso é prova do que eu falei desde sempre, que o Temer não tem nada a ver com isso. Agora, o papel do ministro Moro foi impecável. Não tem nada ali que mostre nenhum tipo de fraude de provas ou confecção de provas. Nada.
Mesmo aquelas conversas orientadas?Pode haver uma conversa no gabinete, eventualmente. A diferença é que foi por WhatsApp. O que eu insisti e falei, publicamente, é que todas as autoridades precisam ter essas palestras regulamentadas. Todo mundo criticou as palestras do Dallagnol, mas a verdade é que vários ministros dos tribunais superiores dão palestras também, e pagas a peso de ouro. E isso gera conflito de interesses e pode, de alguma maneira, encobrir recebimento de dinheiro indevido. Sou favorável a uma regulamentação severa sobre a participação de autoridades em eventos, palestras. Não pode ter patrocínios.