Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado Depoimento de Luciano Hang na CPI coincidiu com ação de perfis automatizados no Twitter Os depoimentos d...
Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado
Os depoimentos do empresário e dono da loja de departamentos Havan, Luciano Hang, e da advogada do grupo de médicos da Prevent Senior, Bruna Morato, na CPI da Covid no Senado Federal geraram movimentação significativa de perfis com alta possibilidade de automatização, ou “bots”, no Twitter. Relatório do Pegabot, projeto desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS Rio), analisou os dois dias das falas dos depoentes — 28 e 29 de setembro — e constatou que os bots atuaram principalmente no dia da fala de Hang, defendendo o empresário e atacando os senadores que participam da CPI.
Segundo Maria Luiza Mondelli, pesquisadora em Democracia e Tecnologia do ITS Rio, a equipe observou um índice grande de automatização, quando comparado com outros relatórios já produzidos pelo Pegabot. De acordo com ela, os bots são usados como estratégia para promover a viralização de um conteúdo. Por serem automatizados, esses perfis conseguem compartilhar rapidamente muitos posts sobre um determinado tema. “A existência de usuários que, como detectamos, chegaram a publicar mais de 300 em um intervalo curto de dois dias é um exemplo disso”, afirma.
No dia 29 de setembro, Hang depôs na CPI da Covid-19 no Senado. Na ocasião, ele defendeu publicamente o uso de medicamentos sem eficácia no combate à Covid-19 e negou ter pedido para que a doença não constasse no boletim de óbito de sua mãe, que morreu em fevereiro deste ano. Na ocasião, a Lupa verificou a fala do empresário e constatou algumas informações falsas. Nas redes sociais, o depoimento de Hang reverberou em diversas publicações, com muitos usuários defendendo e criticando o empresário.
O relatório do Pegabot analisou 617 mil posts feitos no dia do depoimento de Hang que tinham hashtags mencionando a CPI e constatou que 15% foram feitos por bots, cerca de 92.680 tweets. Essas publicações foram feitas por 2.129 perfis automatizados. A maior parte das publicações feitas por esses perfis foram RTs, ou seja, eles republicaram o que foi tuitado por outro usuário. Isso faz com que um conteúdo viralize de forma artificial, e, com isso, tenha maior chance de aparecer para os usuários da plataforma.
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No dia anterior, a advogada Bruna Morato, que representa um grupo de médicos que faz acusações à Prevent Senior, esteve na CPI da Covid para prestar seu depoimento. A empresa está sendo investigada por usar pacientes em testes clínicos sem consentimento, adulterar os resultados desses testes e fraudar atestados de óbito.
Os perfis automatizados também agiram no Twitter naquele dia, porém em menor quantidade. Ao todo, 211 mil publicações foram feitas, sendo que 12% vieram de bots, representando um total de 25 mil tweets. Esses posts foram feitos por 1.844 perfis considerados automatizados.
“Como resultados, podemos observar que o dia 29 mobilizou mais usuários com comportamento automatizado e um volume maior de publicações realizadas por eles, se comparado ao dia 28. Além disso, o dia 29 também mobilizou um volume maior de usuários com alta frequência de postagens em relação ao dia anterior: 98% desses usuários participaram de publicações nesse dia. O dia 28 reuniu publicações de 76% dos usuários com alta frequência de postagens”, conta o relatório.
Bots
Buscando pelo teor das publicações feitas pelos bots, foi possível constatar que eles, em sua maioria, defendiam o empresário Luciano Hang ou criticavam senadores que participam da CPI da Covid-19, como Omar Aziz (PSD-AM) e Renan Calheiros (MDB-AL). Um perfil com 84% de possibilidade de ser automatizado escreveu, por exemplo, que a fala de Hang mostra que ele teria “estômago para ficar 8 anos no Senado” — segundo diversos veículos de comunicação, ele cogita ser candidato ao Senado por Santa Catarina. Outros tuítes afirmam ainda que o empresário, por ser dono da Havan, empregou muitos brasileiros durante a pandemia.
Em contrapartida, senadores em cargos-chave na CPI foram criticados por esses mesmos perfis. Por exemplo, diversos desses perfis automatizados retweetaram uma publicação da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) criticando o relator da CPI, senador Renan Calheiros, por não distinguir “tratamento inicial” de “tratamento precoce” para Covid-19. Não existe nenhum medicamento com eficácia comprovada em nenhum dos casos.
Metodologia
A equipe do Pegabot analisou 829.224 tweets feitos por mais de 14 mil perfis nos dias 28 e 29 de setembro, durante os depoimentos de Hang e Morato. Entre as hashtags analisadas estão: “CPIdaCovid”, “CPIdaPandemia”, “CPIdoCirco” e “CompreNaHavan”. Com a ajuda do Pegabot foi possível verificar a probabilidade de o perfil analisado ser automatizado ou não. A ferramenta analisa os dados de cada perfil público disponível nas APIs do Twitter, como, por exemplo, o nome do perfil, a descrição e o número de postagens realizadas.
“Com base nessas informações, o Pegabot estabelece um conjunto de quatro critérios — temporal, usuário, rede e sentimento — que juntos indicam a probabilidade de comportamento automatizado de uma conta, dando uma pontuação de 0 a 100. Quanto mais alto o valor, maior a chance de o perfil ser automatizado. Esse resultado é referente a usuários que pontuaram com valor de, no mínimo, 70% de probabilidade na análise total do Pegabot”, diz o relatório.
Twitter
A Lupa encaminhou ao Twitter uma lista com todos os perfis que apresentaram alta probabilidade de existência de comportamento automatizado que foram identificados pelo Pegabot. Em nota, eles indicaram que houve a suspensão permanentemente de seis contas por violação à sua política contra spam e manipulação da plataforma.
“Dito isso, é importante lembrar que é comum que pessoas reais, de comportamento orgânico, tweetem e retweetem com bastante frequência sobre um assunto com o qual são engajadas — isso não é uma violação às nossas regras e parece ter sido o caso da grande maioria das contas analisadas”, diz a nota.Editado
“Como resultados, podemos observar que o dia 29 mobilizou mais usuários com comportamento automatizado e um volume maior de publicações realizadas por eles, se comparado ao dia 28. Além disso, o dia 29 também mobilizou um volume maior de usuários com alta frequência de postagens em relação ao dia anterior: 98% desses usuários participaram de publicações nesse dia. O dia 28 reuniu publicações de 76% dos usuários com alta frequência de postagens”, conta o relatório.
Bots
Buscando pelo teor das publicações feitas pelos bots, foi possível constatar que eles, em sua maioria, defendiam o empresário Luciano Hang ou criticavam senadores que participam da CPI da Covid-19, como Omar Aziz (PSD-AM) e Renan Calheiros (MDB-AL). Um perfil com 84% de possibilidade de ser automatizado escreveu, por exemplo, que a fala de Hang mostra que ele teria “estômago para ficar 8 anos no Senado” — segundo diversos veículos de comunicação, ele cogita ser candidato ao Senado por Santa Catarina. Outros tuítes afirmam ainda que o empresário, por ser dono da Havan, empregou muitos brasileiros durante a pandemia.
Em contrapartida, senadores em cargos-chave na CPI foram criticados por esses mesmos perfis. Por exemplo, diversos desses perfis automatizados retweetaram uma publicação da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) criticando o relator da CPI, senador Renan Calheiros, por não distinguir “tratamento inicial” de “tratamento precoce” para Covid-19. Não existe nenhum medicamento com eficácia comprovada em nenhum dos casos.
Metodologia
A equipe do Pegabot analisou 829.224 tweets feitos por mais de 14 mil perfis nos dias 28 e 29 de setembro, durante os depoimentos de Hang e Morato. Entre as hashtags analisadas estão: “CPIdaCovid”, “CPIdaPandemia”, “CPIdoCirco” e “CompreNaHavan”. Com a ajuda do Pegabot foi possível verificar a probabilidade de o perfil analisado ser automatizado ou não. A ferramenta analisa os dados de cada perfil público disponível nas APIs do Twitter, como, por exemplo, o nome do perfil, a descrição e o número de postagens realizadas.
“Com base nessas informações, o Pegabot estabelece um conjunto de quatro critérios — temporal, usuário, rede e sentimento — que juntos indicam a probabilidade de comportamento automatizado de uma conta, dando uma pontuação de 0 a 100. Quanto mais alto o valor, maior a chance de o perfil ser automatizado. Esse resultado é referente a usuários que pontuaram com valor de, no mínimo, 70% de probabilidade na análise total do Pegabot”, diz o relatório.
A Lupa encaminhou ao Twitter uma lista com todos os perfis que apresentaram alta probabilidade de existência de comportamento automatizado que foram identificados pelo Pegabot. Em nota, eles indicaram que houve a suspensão permanentemente de seis contas por violação à sua política contra spam e manipulação da plataforma.
“Dito isso, é importante lembrar que é comum que pessoas reais, de comportamento orgânico, tweetem e retweetem com bastante frequência sobre um assunto com o qual são engajadas — isso não é uma violação às nossas regras e parece ter sido o caso da grande maioria das contas analisadas”, diz a nota.Editado
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