Estrutural: A vitória da esperança

Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados/Divulgação  Izalci Lucas Depois de mais de seis décadas de luta, das quais algumas com sangue, suor e...

Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados/Divulgação

 Izalci Lucas

Depois de mais de seis décadas de luta, das quais algumas com sangue, suor e lágrimas, a cidade Estrutural celebra, nesta sexta-feira, seu aniversário com realizações e alegrias e ainda lutando sempre por dias melhores.

No início da primeira década da nova capital, o governo federal escolheu uma área para descarte do lixo. Era uma área próxima a dois córregos e uma região de mananciais. 

Ali não era o local para fazer um grande aterro sanitário, tão próximo a nova e bela Brasília. Mas assim foi feito e o aterro e passou também a ser local de trabalho e moradia.

Começava ali a saga da Estrutural. 

Formada por brasileiros de todos os cantos, principalmente por nordestinos que chegavam em busca de uma fonte de renda. 

Com moradias precárias e ausência de serviços públicos, as primeiras 100 famílias se fixaram no lixão para sobreviver. 

No final dos anos 80 e início dos 90, a invasão já contava com 270 famílias de catadores de lixo e, em 1993 já eram 723 famílias que passaram a enfrentar uma história sem igual, de lutas e conflitos com o poder público. 

 Em 1994, o número de famílias subiu para 1.5 mil e, logo depois em 1995 o governo dá início as remoções daqueles moradores de forma truculenta, ao mesmo tempo em que, para impedir novas invasões coloca quilômetros de arame farpado circundando a cidade, que na realidade transformam a área em um capo de concentração, com helicópteros fazendo varreduras dia e noite e com o bloqueio ao único acesso que haviam para que os caminhões entrassem lá e abastecessem os mercadinhos locais.
Mesmo com as remoções conseguidas, em 1996 a invasão somava 3.38 mil barracos e cerca de 14 mil habitantes.

 Logo depois, o Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) do DF destinou a área para a instalação de indústrias não poluentes e daí mais 700 pessoas chegam de uma só vez à Estrutural, o que resulta em nova derrubada de barracos com confrontos e feridos, que dão causas a um movimento de líderes comunitários para garantir o comércio na região.
Em 1998, um soldado é morto durante uma operação no local. No dia seguinte PMs invadem casas e mais pessoas são mortas. um soldado morre com um tiro na cabeça durante operação de desarmamento. No dia seguinte, PMs invadem casas e suspeitos de terem participado do assassinato do policial são mortos. Conhecido na cidade pelo apelido de Azulão, Roberto José dos Reis Filho teve sua casa invadida, seu filho e esposa mortos. Ele, apesar de baleado, sobreviveu.
Depois de tudo isso, graças ao governador Roriz, a regularização da Estrutural tomou corpo e a antiga invasão se consolidou como cidade. Transporte para levar as crianças para as escolas, água e energia por meio de caminhões pipa e gerador deram aos moradores novo alento. Mas após mais pressão, uma escola de madeirite e a instalação de água potável e energia viraram realidade. Em 2004 o SCIA foi transformado na 25ª Região Administrativa (RA), tendo a Estrutural como sede urbana e a Cidade do Automóvel como sede da Administração Regional. 

A estrutura Urbana do SCIA conta com quatro Escolas públicas de ensino fundamental e uma de ensino médio no turno noturno, dois postos de Saúde Pública, uma Delegacia de Polícia (8ª DP; Civil), uma Biblioteca comunitária, uma praça central com dois Pontos de Encontro Comunitário (PEC).
A região conta ainda com a Agência do trabalhador, Feira livre reorganizada por meio do Cadastro dos Feirante; projetos como o Saúde na Praça e oficinas de capacitação e fabricação de Hortas (agricultura) comunitárias e lixeiras ecológicas. Além disso, há diversas obras de Pavimentação, mais Saneamento básico em regiões que antes não possuíam acesso a estes serviços básicos. Porém ainda há setores que carecem de Infraestrutura básica e saneamento. 

É o caso do setor Santa Luzia que é um setor da cidade Estrutural, um pouco mais novo que a cidade e é caracterizado pela falta de infraestrutura, saneamento básico e regularização. 

 O Santa Luzia agrega uma população em situação de vulnerabilidade e precisa que os governantes olhem para as famílias que ali vivem.
A Estrutural está aí de pé e vitoriosa. Depois de mais de seis décadas de luta, das quais algumas com sangue, suor e lágrimas, a cidade celebra, nesta sexta-feira, seu aniversário com realizações e alegrias e ainda lutando sempre por dias melhores. A esperança venceu. Parabéns a cidade e ao seu povo bravo e guerreiro.

 Izalci Lucas  é senador da República pelo Distrito Federal